
No capítulo 1 de “Para educar o potencial humano” – A criança de seis anos confrontada com o plano cósmico – Montessori explica que, apesar de a essência permanecer a mesma, o segundo plano de desenvolvimento não é uma continuação do primeiro, isto porque a mente da criança de 6-12 anos passa por uma transformação expressiva.
A criança, que do nascimento aos seis anos, guiada por sua força interior, empenhava-se para conquistar a sua independência física e com sua mente, primeiro inconsciente (do nascimento aos três anos), depois consciente (dos três aos seis anos), absorvia tudo de seu ambiente, agora, passa a ter uma “consciência” mais elevada.
Aos seis anos, não exatamente ao soprar das velas, a criança, que continua seguindo seu guia interior, vai se despedindo do plano anterior e caminhando ao encontro do seu plano cósmico, onde se mostrará avida para descobrir o porquê de as coisas serem como são e pronta para receber respostas mais longas para as suas perguntas mais complexas. O alimento da alma infantil agora é a cultura e tal qual a lagarta, que come incessantemente para depois entrar no seu período de repouso, a criança precisa que seu intelecto seja nutrido até a saciedade.
No segundo plano, o adulto continua seguindo a criança, deixando que ela faça as coisas por si mesma, não corrige, não interrompe, não impõe. O novo desafio do adulto é se policiar para não obstaculizar o processo da criança de pensar sozinha. Isso exigirá do adulto um pouco mais de dedicação aos estudos, preparo interior e certo planejamento para saciar a fome intelectual da criança. Não cabe ao adulto dar todas as respostas para a criança, e sim apresentar os meios por onde ela poderá fazer suas descobertas.
A criança cresce também em tamanho e continua tendo o ambiente preparado do seu ponto de visão. Esse ambiente permanece leve, belo, claro, limpo, organizado e…fascinante!
De acordo com Montessori, embora não haja limites para apresentar a cultura do mundo à criança, se faz necessário um “método especial”, que permita passear por todas as fontes de cultura e “sementes de interesse” possam ser cultivadas e germinadas mais tarde.
A questão moral, a distinção entre bem e mal e o senso de justiça também se manifestam nesse plano. Esse é o momento em que o adulto, que ainda não conseguiu mudar seu olhar e se livrar do seu orgulho e da sua ira, pode entrar em conflito com a criança, pois toma o período de conquista das habilidades de pensar, questionar e julgar os fatos por si mesma como rebeldia. Há de se ter ainda mais paciência e coerência entre o que se fala e o que se pratica, além de espaço para negociações e para o diálogo.
Além das conquistas do intelectual e da moral, outra necessidade urge na criança no segundo plano. Montessori explica:
É, portanto, o lado de fora, o melhor lugar para a criança: escola, parques, natureza, grupos de escoteiros, pequenos passeios guiados, onde a criança é a protagonista, visita a museus, bibliotecas, galerias e tudo o mais que expresse arte e cultura.
Se tamanha maravilha for revelada à criança com a merecida maestria, o encantamento e uma curiosidade talvez incessante, farão com que a mente da criança se centre em um trabalho com propósito. A educação cósmica, que norteia o segundo plano, certamente torna a educação avançada muito mais interessante. A criança começa a perceber que um assunto leva a outro e que há uma relação entre todas as coisas a sua volta.
Aqui também começa a surgir a capacidade de abstração e a imaginação, mas isso é assunto para um outro post.
Comentários