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Conheça as mulheres que estruturam o currículo Montessori para a educação das crianças de 0 a 3 anos.

Atualizado: 28 de ago.

História das Assistentes à Infância



Maria Montessori, vestida de branco, sentada em uma cadeira, com um bebê no colo
Maria Montessori

Maria Montessori já havia estruturado um currículo notável para o agrupamento de 3 a 6 anos e seu método havia se espalhado pelo mundo. Ela estava bem estabelecida na Holanda quando recebeu a visita do inglês George Arundale, que à época era presidente da Sociedade Teosófica, na Índia. Impressionado com o lindo trabalho que Montessori dedicava às crianças e com os resultados obtidos, Arundale a convidou para ministrar um curso na Índia, onde residia. O curso foi patrocinado por Tagore e Gandhi. A proposta era muito tentadora e Montessori aceitou de imediato. Para tanto, Montessori teria de conhecer o país e compreender aspectos relevantes da sua cultura para que pudesse fazer eventuais ajustes na formação, levando em conta as necessidades das crianças indianas. A estadia de Montessori na Índia seria de seis meses, um período breve, comparado ao longo tempo de dedicação que suas formações costumavam exigir.

Montessori chegou em Adyar, na Índia, em outubro de 1.939, aos 69 anos, acompanhada de seu filho Mário, que também era seu braço direito e tradutor.

Tão logo chegaram à Índia, uma segunda guerra assombrou o mundo. Maria e Mário, por sua nacionalidade italiana, ficaram aprisionados no país. Foram tempos conturbados para Maria e Mário, assim como para todos os povos que vivenciaram a guerra. Diante desse cenário, Maria e Mário permaneceram na Índia por cerca de seis longos anos. No primeiro momento, Maria e Mário permaneceram em Adyar, mas por problemas de saúde de Maria, ambos foram instalados nas colinas de Kodaikanal. Nesse período, Maria e, especialmente Mário, tiveram uma experiência profunda com as crianças maiores, de onde surgiram as inspirações para a Educação Cósmica, que compreende a educação das crianças com idade entre 6 e 12 anos.

Embora tivesse sua circulação limitada, pela primeira vez, Montessori teve a oportunidade de observar as crianças mais novas em um ambiente natural, onde quase sempre estavam cercadas por suas famílias. Essa experiência lhe rendeu longas horas de observação e registros. Foi um período em que Montessori também refletiu muito sobre as diferenças entre as culturas ocidentais e indianas e passou por um processo de transformação interior.

Montessori percebeu que as crianças mais novas não eram seres vazios, que quando chegavam à Casa das Crianças já haviam absorvido muita coisa e que esta fase de desenvolvimento era extremamente importante. Pôde observar que essas crianças seguiam fielmente o seu guia interior, que era inútil querer obrigá-las a fazer qualquer coisa que não quisessem, não porque eram desobedientes ou terríveis, mas porque elas tinham um plano maior a seguir, um plano interior, um plano que as impulsionava a agir de acordo com suas necessidades, sensibilidades e potencialidades. Elas seguiam as leis da natureza e as tendências humanas.

Sua descoberta mais importante deu origem e nome a uma das suas obras mais fascinantes. Montessori descobrira que essas crianças eram pequenas, mas as suas mentes eram brilhantes, uma mente que absorvia tudo do seu entorno, sem que ao menos tivessem consciência disso. Montessori chamou de Mente Absorvente, que se desenvolve do nascimento aos seis anos.

Montessori concluiu que essas crianças pequenas, dotadas de uma mente especial e de um guia interior que as direcionam a cumprir aquilo que era importante para o seu desenvolvimento saudável e natural, precisavam de um ambiente preparado, pensado e planejado para elas. Contudo, a esta altura Maria e Mário já estavam muito envolvidos com a educação das crianças do segundo plano. Não haveria tempo, nem saúde para estruturar mais um currículo. Todavia, Maria sentia que precisava começar a fazer algo, ainda que fosse em parceria com outras pessoas.

O sucesso alcançado com a Casa das Crianças, palestras e formações havia lhe rendido alguns discípulos fieis e aplicados, em quem Montessori sabia que podia confiar. Logo, Montessori não hesitou em pedir ajuda para desenvolver um programa que apoiasse a educação das crianças do nascimento aos três anos. Adele Costa Gnocchi, aluna, discípula e amiga de Montessori de longa data, foi o primeiro nome que lhe veio à mente.



Imagem em preto e branco de Adele Costa Gnocchi
Adele Costa Gnocchi

Adele Costa Gnocchi conheceu Maria Montessori no curso de formação para guia Montessori na etapa de 3 a 6 anos em Perugia, formando-se em 1909. Iniciou o seu trabalho em uma sala montessoriana, em 1928, em Palazzo Taverna, tendo a sorte de ser uma das poucas escolas montessorianas que Mussolini permitiu que permanecesse aberta.

Ao retornar da Índia, em 1946, Maria Montessori convidou Adele para colaborar, trabalhar e criar o programa de Assistentes à Infância. A discípula de Maria Montessori se tornara sua colaboradora no projeto que visava formar pessoas interessadas em prestar assistência às crianças de 0 a 3 anos e suas famílias.

Adele colocou o projeto em prática rapidamente e, em 1947, fundou em Roma, a primeira Escola de Assistentes à Infância, que funcionava como um centro de formação. Adele era diretora do curso e responsável pela formação de novos guias. Esta formação tinha duração de dois anos e Adele era bastante exigente. Seus alunos eram incentivados a sempre buscar novos recursos e confeccionar novos materiais. Profissionais de outras áreas, como pediatras, obstetras e psicólogos ministravam aulas aos alunos.

Montessori transmitia à Adele as orientações necessárias, bem como, compartilhava todo o conhecimento obtido a partir das observações das crianças indianas, sobretudo, sobre a mente absorvente inconsciente das crianças de 0-3 anos. Todo esse treinamento era feito através de cartas. Adele respondia as cartas de Montessori, contando sobre suas experiências práticas e tirando dúvidas.

Montessori chegou a visitar e observar Adele na Escola de Assistentes da Infância, contudo, ao longo de toda a sua trajetória, Montessori nunca trabalhou diretamente com crianças de 0-3 anos.

Em 1957, surge uma “subespecialidade” e um ano foi adicionado ao curso para que os alunos pudessem se aprofundar nos conhecimentos sobre os últimos meses de gestação, acompanhar o parto e apoiar as famílias antes e depois do nascimento, especialmente no período simbiótico. Nesta formação também era exigido o estágio de 800h de observação para que os alunos pudessem aprender a observar os bebês, compreender melhor suas necessidades, e assim, servir de ajuda à vida e ao desenvolvimento natural deles.

A partir dessas formações, Montessori e Adele estruturam o currículo para a educação das crianças de 0 a 3 anos. Contudo, ainda hoje, essa formação é dinâmica e ajustes são feitos sempre que necessário.

Adele esteve entre as primeiras pessoas que se dedicaram à educação das crianças do nascimento aos 3 anos. Muito atenta e preocupada com o bem-estar e o desenvolvimento da criança nesta fase, Adele desenvolveu um "Decálogo de 15 pontos para responder às necessidades dos bebês", como ilustrado na tabela apresentada a seguir.


Esta tabela é de uso exclusivo do Caminhar Montessori. Proibida reprodução ou cópia. Você pode usar para compartilhar ou para os seus estudos, sempre citando a referência.
Esta tabela é de uso exclusivo do Caminhar Montessori. Proibida reprodução ou cópia. Você pode usar para compartilhar ou para os seus estudos, sempre citando a referência.

Adele também se preocupava com as necessidades da mãe durante o período de gestação e do puerpério. Desenvolveu, então, um Centro de Maternidade, onde os objetivos eram:


Tabela com os 3 Objetivos do Centro de Maternidade criado por Adele Gnocchi
Esta tabela é de uso exclusivo do Caminhar Montessori. Proibida reprodução ou cópia. Você pode usar para compartilhar ou para os seus estudos, sempre citando a referência.

Em 1967, Adele Costa Gnocchi faleceu. O legado deixado por Montessori e Adele forma a base do curso de guias e assistentes de 0 a 3 anos.



Imagem em preto e branco de Grazia Honegger Fresco
Grazia Honegger Fresco

A pedagoga Grazia Honegger Fresco, nascida em Roma em 6 de janeiro de 1929, foi introduzida no ambiente educacional Montessori aos 4 anos, ao ser matriculada em uma das "Case dei Bambini", em Roma.

Em 1947, aos 18 anos, Grazia Honegger Fresco foi convidada por Adele Costa Gnocchi para integrar a pioneira turma experimental da recém-criada Escola Montessoriana de Assistentes Infantis, fundada pela própria Adele. Neste estágio, realizou extensas observações e pesquisas relacionadas a recém-nascidos, o que teve um impacto significativo em suas convicções pedagógicas sobre o parto, a relação entre mãe e filho, e a educação de adultos.

Grazia teve a oportunidade de encontrar Maria Montessori pessoalmente durante o Congresso Montessori em Sanremo, tornando-se aluna no último curso ministrado por Montessori em Roma, em 1951. Simultaneamente, iniciou colaboração com Adele Costa Gnocchi na Casa das Crianças do Palazzo Taverna, popularmente chamada de Scoletta, e, a partir de 1952, atuou como assistente de Giuliana Sorge nos cursos Montessori.

Desde 1953, dedicou-se à disseminação da educação e da filosofia montessoriana através da escrita, contribuindo com a revista Vita dell'Infanzia da Ópera Nacional Montessori, posteriormente, lançando sua própria publicação regular (1984-2017).

Somou ao seu legado, a abertura de escolas e cursos de formação na Itália e no exterior, direcionando-se a educadores, professores, pais e serviços de acolhimento de crianças. Em 2008, foi laureada pela UNICEF e dedicou duas importantes biografias às suas mestras, Adele Costa Gnocchi e Maria Montessori.

Ao longo de sua vida, dedicou-se incansavelmente à promoção de uma educação não violenta, livre de julgamentos, que atentava às necessidades individuais de cada criança, com especial enfoque no período do nascimento até os primeiros três anos de vida. Seu falecimento ocorreu em Castellanza, em 30 de setembro de 2020, aos 91 anos, permanecendo ativa e comprometida com a educação montessoriana até o fim de seus dias.



Imagem em cores de Silvana Quattrocchi Montanaro
Silvana Quattrocchi Montanaro

Silvana Quattrocchi Montanaro, além de formada por Adele, matriculou sua filha em sua escola.

Em 1955, Silvana Montanaro – doutora em medicina, cirurgia, especialista em psiquiatria e discípula de Adele Costa Gnocchi – foi convidada a ministrar algumas aulas na Escola de Assistentes à Infância. Posteriormente, Silvana foi sua sucessora no centro de formação em Roma.

Em 1980, Silvana Montanaro dirigiu o primeiro curso de diploma para guia de Assistência à Infância, pela Association Montessori Internationale (AMI), em Roma.

Silvana Montanaro, foi treinadora de Judith Orion e Gianna Gobbi e, em 1983, ministraram o primeiro curso de diploma para guia de Assistência à Infância nos Estados Unidos. A convite da família Star, em 1989, Judith Orion partiu para Denver para dar um treinamento. Desde então, Denver passou a sediar o Centro de Treinamento 0-3 anos oficial da AMI.

Do início da década de 90 até 2011 três nomes se somam ao rol de treinadores AMI para essa faixa etária: Maria Teresa Vidales (treinada por Judith Orion), Patty Wallner (treinada por Silvana Montanaro) e Silvia Dubovoy, que já era treinadora 3-6 anos. O pioneirismo de Silvana Montanaro, bem como, a revisão do currículo 0-3 provocado por ela, abriram as portas para a formação de uma nova geração de treinadoras. No momento presente, a Association Montessori Internationale, diplomou aproximadamente 30 treinadoras, 7 auxiliares e outras 12 pessoas seguem no programa.

Silvana Montanaro faleceu em 2018 e, em sua homenagem, a AMI declarou:


“Em memória da Dr. Montanaro e para apoiar o crescimento da formação de professores dos 0 aos 3 anos, a AMI criou o Fundo Silvana Montanaro. Todas as doações para o fundo serão utilizadas para ajudar a reduzir o custo de participação no programa de seminários de Formação de Formadores, permitindo a formação de mais professores AMI 0-3, oferecendo a mais crianças o acesso a esta experiência fundamental. A AMI fez uma doação inicial em homenagem à Dra. Montanaro e encorajamos todos os que foram tocados pelo seu trabalho a contribuir.” (Association Montessori Internationale, 2018).

Silvana Montanaro é autora do livro Um Ser Humano, que é leitura obrigatória na formação de novos guias.



O trabalho das assistentes à infância


Seguindo os princípios de Maria Montessori e o legado de Adele Costa Gnocchi, uma Assistente à Infância ou Guia Montessori de 0-3 anos deve ter em mente a importância da missão que carrega.

Estamos lidando com o momento mais sensível e importante do ser humano. Devemos nos revestir de humildade e gratidão, para cumprir nossa missão de servir de ajuda à vida da criança, da sua família e da humanidade.

A educação deve ser uma ajuda à vida e nós devemos estar prontos para servir de auxílio nesse processo de autoconstrução da criança. Contudo, uma especificidade desta formação é que não nos envolvemos apenas com a criança, mas também com suas famílias.

Assim, temos ser conscientes de que:


  • Devemos estar dispostos a acompanhar as famílias que solicitarem nossa ajuda.

  • Devemos ter clareza do nosso papel. Necessidades especiais requerem ajuda especializada, e nós ajudamos com informação e apoio.

  • Seja no ambiente escolar ou familiar, com as crianças ou suas famílias, com a assistente da sala ou outros membros da equipe, devemos modular a nossa voz e falar com respeito e amabilidade.

  • A criança deve ter o seu trabalho, sobretudo sua concentração, protegidos. A menos que observemos um perigo iminente, nunca interrompemos uma criança que se concentra.

  • Devemos levar em conta que se a criança nessa fase tem uma mente absorvente inconsciente, ela está trabalhando o tempo todo, mesmo quando julgamos que ela não está fazendo nada.

  • Devemos nos lembrar também da importância do ócio.

  • Devemos ter amor devocional pelas crianças. Todas elas. Sem preferências ou distinções, especialmente, dentro da sala de aula.

  • Quando a criança precisa de ajuda – e ela pode pedir ajuda – ajudamos o mínimo necessário. Não queremos que se frustre a ponto de desistir, mas também não queremos obstaculizar o seu processo de independência, autonomia, vontade e concentração.

  • É a guia quem conecta a criança ao material, por isso, devemos conhecê-los muito bem e apresentá-los corretamente.

  • É importante que a criança tenha clareza de todas as etapas do processo: buscar, trabalhar, organizar e guardar. Também é importante que a criança interiorize que o seu trabalho só termina quando o material foi devolvido à estante. Além da ordem, esse processo ajuda a criança no desenvolvimento das suas funções executivas.

  • Habitualmente, uma sala montessoriana conta com uma guia e uma assistente. Deve haver comunicação e respeito nessa relação.

  • Não empurramos ou arrastamos nenhuma mobília da sala, muito menos a criança. Bem como, não subimos em pias ou mesas. Uma guia deve caminhar lentamente e transportar objetos com cuidado e gentileza.

  • Devemos lembrar que as crianças nos observam o tempo todo e, por isso, devemos ser modelo de graça, cortesia e civilidade.

  • Para ser capaz de oferecer o seu melhor ao outro, é preciso antes cuidar de si, da sua dignidade, da sua aparência, da saúde física, mental e emocional.

  • Reconhecer os seus próprios desvios e buscar meios para retomar o seu equilíbrio natural.

  • Aceitar que o caminho é longo e exige constante evolução, auto preparação e autoconhecimento.

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